Empresária Carolina Santos defende que o crescimento nas empresas familiares começa por uma ruptura interna – e que visão estratégica é habilidade treinável, não talento inato
Empresas familiares são maioria no Brasil, mas poucas se tornam grandes. Dados do IBGE apontam que elas representam cerca de 90% das companhias em atividade no país, responsáveis por três em cada quatro empregos formais. Ainda assim, segundo o Banco Mundial, apenas 30% chegam à terceira geração. Para Carolina Santos, empresária, e mentora de empresários e especialista em gestão estratégica, o obstáculo que mais se repete nesses negócios e impede nao somente o crescimento e lucratividade mas tambem a perenidade dessas empresas não está nos mercados ou na concorrência — mas na mentalidade dos próprios fundadores.
“O que mais trava o crescimento é a falta de pensamento estratégico é o pensamento de curto prazo. A empresa familiar nasce com alma, mas muitas vezes não desenvolve músculo de gestão”, afirma Carolina, que há mais de duas décadas atua na liderança de organizações e hoje comanda mentoria e treinamentos voltados a donos de pequenas e médias empresas.
Em sua avaliação, o ponto de virada se dá quando o empresário compreende que não basta trabalhar mais. “É preciso pensar diferente. A rotina, as urgências e a falta de visao estratégicaoperação nos deixam míopes. Quem não aprende a sair desse ciclo passa a vidacontinua apagando incêndios — nao usufrui do presente e não constrói futuro”, aponta.
A mudança, explica a empresária, começa com um processo de conscientização sobre o papel do dono. “No início do negócio e muito natural que oO fundador abrace e carregue muitas vezes carrega tudo: decide, vende, executa, cobra, contrata, demite. Mas uma empresa só cresce quando o dono entende que ele tem limites e que a empresa precisa crescer desenvolvendo certos niveis de autonomia nas pessoas. É preciso confiar nas pessoas e delegar de forma estratégica. A empresa cresce quando o dono compreende que ele é o principal agente estratégico, não o principal executor”, pontua.
Para isso, é necessário desenvolver uma mentalidade voltada ao estabelecimento e disseminacao massiva da visao e valores da empresa. Na rotina o empresário precisa ter tempo e saude mental para se dedicar uma visãoà análise, ao planejamento, analise de dados, ajuste e validacao de processos, desenvolvimento massivo de pessoas, experiencia do cliente, açoes que geram receita e à criação de modelos replicáveis. “É uma mudança de identidade profissional. O empresário precisa parar de ser apenas um resolvedor de problemas (que poderiam ter sido evitados com pessoas treinadas em processos definidos) e começar a se comportar como um estrategista”, destaca.
No contexto de empresas familiares a visao e o pensamento estratégico (ou a falta deles) impactam diretamente nas gerações futuras. Todo empresário deveria se perguntar: “se eu partir hoje deste mundo, o que estou deixando para meus filhos? Uma empresa madura, organizada, com governança e vida própria, ou um verdadeiro cavalo de troia que só vai gerar caos e destruição quando entrar na vida deles?”
Carolina defende que visão estratégica não é uma habilidade inata, mas treinável. “Aprender a interpretar números, entender indicadores, observar o mercado e planejar com base na visao de futuro e em dados é uma questão de modelo mentaldisciplina e método”, afirma.
Em suas mentorias eseus treinamentos, ela reforça a importância de separar tempo para pensar o negócio, não só trabalhar nele. “Muitos empresários dizem que não têm tempo para planejar. Mas, justamente por isso, nunca saem do lugar”, declara.
Outro ponto crucial, segundo a especialista, é a clareza de onde se quer chegar. “Muitas empresas familiares sabem o que fazem, mas não sabem por que fazem. Falta visão/direção, e sem isso não existe estratégia”, afirma.
Para Carolina, visão estratégica não é apenas um documento ou plano de metas, mas uma postura contínua na direçao e velocidade certa. “É decidir com base no impacto de médio e longo prazo, e não só na resposta imediata. É alinhar equipe, cultura, produto e mercado para um mesmo horizonte”, pontua.
A empresária ressalta que, ao adotar esse novo olhar, empresas familiares passam a aumentar lucratividade, ganhar escala, atrair melhores talentos e abrir caminho para uma sucessão mais estruturada. “Mentalidade empresarial é o alicerce de qualquer transformação. É ela que define se a empresa será apenas um negócio de sobrevivência ou se vai se tornar um legado”, finaliza.
Sobre Carolina Santos
Carolina Santos é empresária, mentora de empresários, treinadora e palestrante, especializada em gestão estratégica de negócios e desenvolvimento humano. Sócia do Espaço HUB , possui trajetória consolidada como Head de Expansão Internacional da Hidrogeron North America e sócia, Diretora de RH e Marketing da Hidrogeron, empresa líder nacional no segmento de saneamento. Especializaçãoe especializacao em Gestao estrategica de pessoas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), MBA em Gestão Estratégica pela FGV, Carolina também acumula diversas certificações internacionais como mestrado em neuromarketing, formação internacional em coaching, gestão e liderança. Sua atuação é marcada pela transformação de negócios familiares, planejamento estratégico, capacitação de empresários e líderes para a perpetuação empresarial. Para mais informações, acesse @carolsantos.mentora ou pelo linkedin